Breve Resenha
Critica:
Por Silas Corrêa Leite
O Romance “Véspera
de Lua “ de Rosangela Vieira Rocha Traz a Prosa da Alma Feminina em Bela
Literatura de Sangria Desatada
“Continue a viver em brilho//Continue vivendo//Sua hora chegou para
brilhar//Todos os seus sonhos estão a caminho//Veja como eles brilham//E se
você precisar de um amigo//Eu estarei logo atrás//Como uma ponte sobre águas
revoltas//Eu acalmarei sua mente//Como uma ponte sobre águas revoltas// -
Bridge Over Troubled Water, Compositor Paul Simon.
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-Enquanto afoito persegui-me a ler sem querer parar, o belíssimo
romance VÉSPERA DE LUA de Rosangela Vieira Rocha, veio-me a mente – perdão
leitores - o suicídio de Sylvia Plath, e concomitantemente – ah a louca mente
humana – a mãe de Elvis Presley, e para a qual ele cantava chorando, “Bridge Over Troubled Water”, composição de
Paul Simon, antes mesmo de ser o astro do rock
que ao morrer iria constar em Memphis intitulado então na Igreja Assembleia
de Deus de Elvis Presley, na cidade onde nasceu. Tudo junto e misturado, não
sei como e com que feitio, mas, perdoem, foi o li/senti/vivi/captei, juntando
os cacos, na soma da leitura. Somas de entressumos e perguntamentos, ou
quireras de entrelinhas da leitura embonitada e tocante, fluente?
Adoro cantoras de blues e jazz. Que cantam rasgos da alma e adotam
cactos no espírito. Adoro as ins-piradas poetas russas, e, ultimamente,
coincidência ou não, ando lendo escritoras mulheres (se mulher que lê vale
ouro, imagine então as que escrevem?), eu, um bendito fruto, criado entre elas,
fruto de uma matriarca mulher-bandeira, nesse mundo machista em que certamente
desde a idade das cavernas elas foram dizimadas em seus sonhos e desejos,
passando pela cruel idade média, pela hedionda inquisição nefasta de credos
suspeitos e dogmas parasitas, acho que até muito mais sofreram do que negros e os
índios, porque o garrão sobre elas nesse mundo insano é ainda maior, e a
violência camufla seus prazeres e detona a esperança de liberdade nua e crua, dentro
da própria da dignidade humana dentro do que deveria ser realmente o humanus da
civilização tropeçando em babas de uma ignóbil violência e em cornos de total insensibilidade
a respeito.
“A morte deve ser assim, sem palavras diz a narradora”. Mas, paradoxalmente
é a vida que arrebenta os seus favos, gomos e núcleos de abandonos no que de
lavra na sarada escrita que permeia a obra. Prosa poética cativante como se uma
vazão de contracorrente espremida, vindo de um aparelhamento intimo aqui e ali desbaratado,
desbaratinado, mas ainda e por isso mesmo sedutor. A véspera de uma lua-vida.
Feminina-mente, o próprio “corpo da dor” não estrebuchada, mas lançada na
narrativa como um corte-cerzir certo nas palavras escritas com a cor do pecado
e o sabor de quero mais.
Cólicas menstruais e zonas de desconfortos. A narrativa feito uma indelével
(por assim dizer) sangria desatada. Comungando-se, alma nau, flor fêmea. De
veludo. Quiabo com beija-flores não dá um prato de se cuspir veredas. O Buscopan
letral, e seus efeitos colaterais, bulas a parte. Ah a tábua de carne dessas
mulheres loucas, libertárias, sexualmente potentes, prontas para o bom combate
que a tudo seduz e corrompe e rotula: borboletas negras existem? Memórias-godê?
Aliás, brinco de dizer falando sério (Charles Chaplin) que na TPM converso com
minha esposa-musa de mulher para mulher.
O hormônio é divino ou diabólico? Ai de nós. Diria Sylvia Plath:
“Dentro de mim mora um grito.// De noite, ele sai com suas garras, à caça// De
algo pra amar”. Ou como diria Marina Tsvetaeva
“Não roubarás minha cor// Vermelha, de rio que estua.// Sou recusa: és
caçador.// Persegues: eu sou a fuga.//” Para concluir afinal a lembrança do que
diz Bella Akhátovna Akhmadúlina: “A
chuva açoita meu rosto, meus ombros//a tempestade ronca e vem aí//Cai sobre
mim, a carne, a alma//como a tormenta sobre a nau se abate.//Não quero, não
quero mesmo saber//o que me acontecerá depois - //se serei esmagada pela dor ou
se jogada contra a felicidade”. Rosangela Vieira Rocha trabalha essa prosa-lâmina,
essa prosa-dor, essa prosa-rio como se escavando na própria pele o sentir e o
pensar sobre esse amor que deve dizer o nome, de sua própria cruz e veio. Do
sangue viemos, ao sangue voltaremos. Lágrimas de percursos, e sins e nãos, e
sais no contexto existencial. E lágrimas, sofrências, menstruações, partos e
lonjuras, enjoos e cheganças.
“Despreza os meios-tons, precisa ir ao fundo(...) até encontrar o
deserto(...)”. Bravo! Há poesia na escureza dos cedros que se empinam apontados
para a clareza de todos os sentidos, na alma dos amantes, nos copos de leite
cheios de implicâncias, cacos de espelhos, rasgos de véus, conjeturas e
aceitações. A vaidade é uma boneca cobiçada. A sexualidade é pólvora procurando
rastilho para se encontrar em fogo de amor puro enquanto dócil e frugal. Ah a
solidão-albatroz, a solidão-palhaço, a solidão-Cibalena da mulher fêmea, lua e
estrela, coração e mente atiçando propriedades de natureza intima, almas de
crochê. A salvação dessas amantes é a destruição do preconceito. Sair do
quadrado, da casinha, no caso da personagem, sair, por assim dizer, de uma
espécie de coifa. Escrita-mulher, o gozo apalavrado no letral bem lustral, o
corpo livro, e alma aberta acima e sobre todas as coisas se dizendo única,
talentosa, livre, feito pássara-flor.
A Penalux caprichou na edição, até porque por isso mesmo também a
premiada escritora e professora universitária (e jornalista e advogada) caprichou
no enfoque, na narrativa, na expiação de suas perguntas, nos prismas, conflitos
e angus de caroço, quando com esmero se deu como corpo-vida ao seu talento
literocultural feminino nesse corpo livro que sai do lugar comum, e se assoma
gostoso e cativante como um roteiro de filme, uma balada, uma esperança urdida
de ser feliz em todas as formas de amor.